Fig. 1: Crescimento da prescrição de metilfenidato durante a década de 90. |
Informações precisas sobre as vendas de medicamentos psiquiátricos não são fáceis de serem achadas, visto a fragilidade de nossa Anvisa e o pouco interesse dos laboratórios de divulgarem esse tipo de informação. Entretanto, é inegável o aumento na prescrição desses medicamentos, como expresso pela recente falta do medicamento em algumas farmácias. Dados mais recentes apontam desde um aumento em torno de 80% na prescrição do medicamento entre 2004 e 2008 (dado divulgado pela revista Veja em 2010, que não cita sua fonte) até um aumento de 1.616% entre 2000 e 2008 (dado divulgado pelo "Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos", seja lá o que isso signifique).
Fig. 2: Consumo de metilfenidato nos EUA (azul) e em outros países (cinza). |
Fig. 3: Prescrição de metilfenidato (cinza) e anfetaminas (preto) nos EUA. |
"Neurologistas e psiquiatras argumentam que o controle do metilfenidato deve existir, mas, em se tratando de um medicamento prescrito por especialistas e de não possuir grande potencial de dependência, o receituário azul já seria suficiente para ocontrole adequado".
Os autores explicam que:
"O metilfenidato é uma substância que está classificada na Convenção da ONU sobre Drogas Psicotrópicas – 1971 (revisada em 27 de novembro de 1999) – entre as substâncias da lista II. Deve-se salientar que não consta entre essas substâncias nenhuma que pertença ao grupo de opiáceos/opióides. Por outro lado, de acordo com a Portaria SVS/MS no 344, de 12/5/98, e RDC no 22, de 15/2/2001, o metilfenidato foi colocado na lista A3 (substâncias psicotrópicas), mas sujeito à notificação de receita A. Nessa lista estão contidas substâncias como metanfetamina (“ice”), fenciclidina (“pó de anjo”) e dronabinol (princípio alucinógeno da maconha). No Brasil, entretanto, também as drogas opiáceas/opióides (ou narcóticas) (...) devem ser prescritas com a mesma notificação de receita A. Ou seja, tanto o metilfenidato como os potentes analgésicos e os fortes indutores de dependência, como morfina, meperidina (Demerol® ouDolantina®), fentanila, etc. são prescritos na mesma notificação A, de cor amarela."
Como ressaltado no início, o aumento da prescrição não é um fenômeno restrito aos estimulantes. A prescrição de antidepressivos cresceu ao ponto de o medicamento se tornar o 3o. mais prescrito nos EUA. Entre o período de 1988-1994 e 2005-2008 o crescimento foi de 400%, de modo que atualmente 1 em cada 10 cidadãos americanos com mais de 12 anos estão em uso de algum antidepressivo. O que mais chama atenção sobre esses dados é que o aumento da prescrição é decorrente principalmente da prescrição de antidepressivos por não-psiquiatras! E mais: em cerca de 70% das prescrições, nenhum diagnóstico psiquiátrico foi registrado. A cereja do bolo: menos de 1/3 daqueles que estão tomando um antidepressivo e menos de 50% daqueles tomando vários antidepressivos entre 2005-2008 visitaram um profissional de saúde mental no último ano. Entre os que foram a um profissional de saúde mental, os homens respondiam por uma proporção significativamente maior. Ou seja, mais cuidado ao culpar os psiquiatras pelo "boom!" nas prescrições de psicotrópicos, especialmente quando não indicados.
À guisa de conclusão, é importante colocar esses dados de aumento de prescrição em um contexto de aumento de prescrição de "neurodrogas" em geral. Ou seja, antidepressivos e estimulantes são mais prescritos atualmente (ainda bem, diriam muitos médicos, pacientes e a indústria, obviamente), mas também são mais prescritos os antiepilépticos, os medicamentos para Alzheimer, Parkinson e analgésicos. Medicamentos de outras classes também têm sido mais prescritos, como os antihipertensivos e a melatonina. Um interessante comparativo e crítica do aumento na prescrição de antidepressivos pode ser lido numa postagem recente do blog Neuroskeptic. Por que de tanto alarde com os antidepressivos e os estimulantes? Por que de tanto alvoroço com o aviso sobre aumento de "suicidalidade" com os antidepressivos (o "Black Box Warning" do FDA), se o mesmo aviso também se encontra nos antiepilépticos? Não seria tudo isso um baita preconceito contra os transtornos mentais e a psiquiatria?
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