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Como acalmar o seu bebê em 5 passos

domingo, 31 de março de 2013 0 comentários
Uma das situações mais desesperadoras para os pais de primeira viagem (e até para os de muitas viagens!) é o bebê que não pára de chorar. Muitos profissionais de saúde inclusive não sabem ao certo como ajudar os pais nessa situação. Não raro, os choros são atribuídos a cólicas e os bebês chegar até mesmo a receber prescrição de anticolinérgicos e opioides, como o "elixir paregórico".

Entretanto, na maioria das vezes o "chororô" do bebê pode ser manejado com medidas bem simples, ainda que a causa do choro não esteja muito clara. As medidas apresentadas aqui foram desenvolvidas pelo pediatra Harvey Karp (Departamento de Pediatria, UCLA) e apresentadas no livro e DVD "The Happiest Baby on the Block". Para Harvey Karp, os choros do recém-nascido são cólicas associadas ao que ele chama de o quarto trimestre da gravidez. Para lidar com o bebê inconsolável, Harvey propõe 5 técnicas as quais ele chama de "os 5 S", explicados no vídeo abaixo. As estratégias propostas parecem bastante eficazes em eliciar o que Harvey chama de "o reflexo de acalmar" (the calming reflex). As teorias de Harvey sobre a razão do choro do bebê (ex: cólicas, saudades do útero, etc.) e da eficácia dos 5 passos (ex: evitar o reflexo de Moro) são especulativas e carecem de evidências científicas, o que em nada tira o mérito de sua observação clínica aguçada sobre a resposta dos bebês aos cuidados parentais.


Segundo Harvey, até 20% dos bebês com menos de três meses têm crises de choro por mais de 3 horas por dia e até 50% deles choram ou esperneiam por cerca de 2 horas por dia. O choro de um bebê é bastante estressante para um adulto e bebês chorões podem abalar rapidamente as fantasias parentais de ter um bebê perfeito e de serem pais perfeitos. Choros persistentes se associam a maior estresse parental, discórdia conjugal, menor tempo de aleitamento, depressão pós-parto, abuso infantil, tratamento desnecessário para refluxo gastroesofágico, recaída no tabagismo (Karp, 2008).

Para lidar com os choros intermináveis dos bebês, Harvey propõe a técnica dos "5 S". São eles:
1) Swaddling: se refere à técnica de enrolar o bebê com um cueiro de modo a imitar a restrição de movimentos que havia no útero;
2) Side or stomach position: após enrolar o bebê, colocá-lo na posição de lado ou de barriga ajuda a eliciar o "reflexo de acalmar"; porém, os bebês SEMPRE devem dormir de barriga para cima.
3) Shushing: emissão de um "ruído branco" que imitaria o som do fluxo sanguíneo intra-útero. O som pode ser produzir pelos próprios pais (como o som para pedir silêncio "shhh"), ou o barulho contínuo de um secador de cabelo, aspirador de pó, coifa, etc.
4) Swinging: balançar, o que pode ser feito por um balanço mecânico. Inicialmente o balanço pode ser programado em velocidade mais alta e, depois, ter sua velocidade reduzida. O balanço funciona melhor quando o bebê já foi acalmado, ou seja, para mantê-lo calmo.
5) Sucking: sugar. O uso de chupetas/bicos não deve ocorrer antes de o aleitamento materno estar bem estabelecido.

Algumas dessas estratégias foram submetidas a estudos científicos rigorosos e tiveram sua eficácia e segurança avaliadas (van Sleuwen et al., 2007). Entre elas, talvez a mais estudada seja o swaddling. A técnica de enrolar o bebê, por exemplo, faz com que os bebês durmam mais horas por dias e com menos despertares. Prematuros têm mostrado melhor desenvolvimento neuromuscular, melhor organização motora e mais capacidade de auto-regulação quando são enrolados. Quando comparado com massagem, bebês que choraram menos quando enrolados. O swaddling também pode aliviar a dor em recém-nascidos. A técnica pode ser útil na regulação da temperatura, mas também pode causar hipertermia quando mal aplicada, o que pode se associar a morte súbita. O enfaixamento associado à posição supina (ou seja, de barriga para cima) reduz risco de morte súbita (0,64-0,69; Karp, 2008), mas quando associado à posição pronada (barriga para baixo) aumenta o risco de morte súbita do lactente, o que torna necessário advertir os pais a parar de usar enfaixamento se os bebês tentarem virar de posição. Há alguma evidência de que existe um maior risco de infecções respiratórias relacionadas com o aperto dos panos. Outro possível efeito adverso é um aumento do risco de desenvolvimento de displasia de quadril, o que está relacionado com enfaixamento com as pernas em extensão e adução. Por outro lado, o enfaixamento não influencia o as propriedades ósseas ou o aparecimento de raquitismo. Swaddling imediatamente após o nascimento pode levar a ganho de peso pós-natal atrasado sob determinadas condições, mas não parece influenciar os parâmetros de amamentação (van Sleuwen et al., 2007).

Em resumo, sugere-se que a técnica de enrolar o bebê seja realizada com os seguintes cuidados: evitar a posição de bruços (barriga para baixo); evitar que o cueiro ou o pano seja folgado o suficiente para permitir que o bebê se solte e se sufoque com o material; evitar que seja apertado a ponto de causar desconforto respiratório; usar material adequado e checar se o bebê não está com hipertermia (ex: temperatura do bebê elevada, suando, vermelho, etc.). Os pediatras que devem estar cientes de que swaddling é um fator de risco para displasia de quadril quando mal aplicado. Para as crianças que já estão em risco aumentado para displasia de quadril por causa de história familiar ou parto pélvico, o rastreio com ultra-sonografia do quadril deve ser realizado como recomendado pela Academia Americana de Pediatria. Se a displasia é encontrada, a técnica de enrolar o bebê deve ser evitada. Se os achados ultra-sonográficos de triagem são normais, então o swaddling pode ser permitido com segurança. Para todas as crianças que são enroladas, os médicos devem observar a técnica de swaddling usada pelos pais para garantir que seus quadris estejam livres para flexionar e abduzir em uma posição segura para o desenvolvimento do quadril, o que pode diminuir o risco de displasia de quadril (Mahan et al., 2008).

Outras estratégias podem ser usadas como alternativas aos 5 passos e incluem: massagem, banho morno, contato pele a pele e passeio com o bebê ao ar livre (Karp, 2004). Após o "quarto trimestre", o "reflexo de acalmar" diminui gradativamente. Porém, os pais estarão mais confiantes e conhecendo melhor seus bebês, o que permite o uso de outras estratégias que também acalmam o bebê. Posteriormente, o bebê também irá progressivamente desenvolver suas próprias habilidades para se acalmar e se entreter sozinho.


Referências:


Karp HN. Safe Swaddling and Healthy Hips: Don't Toss the Baby out With the Bathwater. Pediatrics 2008; 121(5): 1075-1076. [Link]

Karp HN. The "fourth trimester":A framework and strategy for understanding and resolving colic. Contemporary Pediatrics 2004. [Link]

Mahan ST, Kasser JR. Does Swaddling Influence Developmental Dysplasia of the Hip? Pediatrics 2008; 121(1): 177-178. [Link]

van Sleuwen BE, Engelberts AC, Boere-Boonekamp MM, Kuis W, Schulpen TW, L'Hoir MP. Swaddling: a systematic review. Pediatrics. 2007 Oct;120(4):e1097-106. [Link]

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