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Médicos estão mais propensos a suspeitar de abuso em crianças mais pobres

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012 0 comentários
O que dizer se você suspeitar que
uma criança foi vítima de abuso?
Veja uma sugestão [aqui].
Abuso infantil é um fenômeno bastante frequente, mas subrelatado. Em virtude disso, estatísticas precisas são difíceis de serem obtidas. Nos Estados Unidos, mais de 2 milhões de casos de abuso infantil e negligência são relatados a cada ano. Sobre o abuso sexual, estima-se que 150.000 a 200.000 novos casos ocorrem a cada ano. Quando adultos, um quarto das mulheres e um em cada sete homens afirmam já ter sido molestados sexualmente antes dos 18 anos*.

Considerando a elevada frequência de maus tratos (físico, psíquico, sexual ou negligência) cometidos contra crianças e adolescências, os profissionais de saúde, de educação e de assistência social têm um papel extremamente relevante na detecção desse tipo de violência. Apesar dos estudos mostrarem uma relação entre abuso e níveis educacionais e socioeconômicos (ou seja, o abuso é mais frequente em famílias de menor nível educacional e menos favorecidas economicamente), o nível de suspeição de abuso deveria ser o mesmo para todos os estratos sociais.

Entretanto, estudo recente de Antoinette L. Laskey e colaborados revela que os médicos tendem a suspeitar mais de abuso quando estão atendendo crianças mais pobres. Um total de 5.000 pediatras, selecionados aleatoriamente, receberam uma das 4 versões de um caso clínico fictício "dúbio", ou seja, que poderia ou não sugerir que uma criança (de cor de pele negra ou branca e de nível socioeconômico alto ou baixo) foi vítima de abuso. Nesses casos ficcionais, o responsável pela criança descrevia um evento sem testemunhas em que uma criança  de 18 meses de idade se acidentou em um brinquedo de modo que resultou em uma fratura oblíqua de fêmur. Esse tipo de fratura pode ser decorrente da perda de equilíbrio de uma criança pequena bem como de um adulto que torceu a perna dela. As medidas de desfecho incluíram classificar o grau em que a lesão pode ter sido acidental ou por abuso e concordância em relatar a lesão aos serviços de proteção à criança.

Um total de 2109 dos médicos responderam aos questionários enviados. A cor de pele do paciente não teve um efeito sobre um diagnóstico de abuso. Entretanto, o abuso era mais provável de ser diagnosticado em pacientes com nível socioeconômico baixo (48% versus 43%, p=0,02). Este estudo reforça trabalhos anteriores demonstrando a propensão dos médicos de considerar o abuso como uma potencial causa de ferimentos mais em crianças de baixo SES. Porém, é difícil saber se as respostas dos médicos a um caso fictício seriam as mesmas na vida real. Os trabalhos futuros deverão tentar entender se isso também acontece na vida real e por que há uma abordagem diferenciada do abuso em crianças menos favorecidas. Os estudos epidemiológicos prévios mostrando que os maus tratos são mais comuns nas crianças menos favorecidas economicamente podem influenciar, mas pobreza por si só não é determinante de abuso. Em entrevista à agência de notícias Reuters, Antoinette Laskey aconselha que os médicos se atenham aos fatos e que levantem a suspeita de abuso independente da condição social.

No Brasil, a suspeita ou confirmação do abuso infantil é de notificação obrigatória! O Estatuto da Criança e do Adolescente afirma que: "os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos devem ser obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sendo considerada infração administrativa, sujeita a multa de três a vinte salários de referência, a não comunicação à autoridade competente, pelo médico ou responsável pelo estabelecimento de atenção à saúde, dos casos de que tenha conhecimento". Há respaldo do Conselho Federal de Medicina para a quebra de sigilo médico nesses casos.


Referência:
Laskey AL, Stump TE, Perkins SM, Zimet GD, Sherman SJ, Downs SM. Influence of Race and Socioeconomic Status on the Diagnosis of Child Abuse: A Randomized Study. J Pediatr. 2012 Jan 3. [Link]

*Uma lista de publicações sobre epidemiologia do abuso é apresentada em: Newton CJ. "Child Abuse: An Overview", 2001. [Link]

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