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Comportamento e pensamento de crianças vítimas de trauma e maus-tratos

domingo, 25 de dezembro de 2011 0 comentários
Na edição de julho de 2011 do Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, dois artigos trataram das repercussões do trauma e dos maus-tratos sobre crianças de diferentes idades.

No estudo de Feldman & Vengrober, os autores investigaram as alterações comportamentais (em especial, estresse pós-traumático; TEPT) em crianças entre 1,5 e 5 anos expostas a trauma de guerra. Foram examinadas 232 crianças israelenses, sendo 148 residentes da Faixa de Gaza e 84 controles. Apesar de no Brasil não vivermos uma situação de guerra declarada como ocorre nessa região, muitas das crianças brasileiras estão expostas a uma situação bastante similar (ex: guerra contra o tráfico em favelas). No estudo israelenses, TEPT foi diagnosticado em 37,8% das crianças expostas à guerra (n = 56). Crianças com TEPT exibiam vários sintomas pós-traumáticos, como representação não-verbal do trauma em jogo, choro frequente, sonambulismo, mudanças de humor e retraimento social. Além disso, também se observou uma regressão substancialdo desenvolvimento nas crianças com TEPT. Mães de crianças com TEPT tinham  mais depressão, ansiedade e sintomas pós-traumáticos, fraco suporte social e menos sensibilidade durante a evocação trauma. As crianças que foram expostas ao trauma de guerra, mas que não desenvolveram TEPT (ou seja, as crianças com maior resiliência), demonstravam um comportamento de apego de base segura, enquanto que crianças com TEPT mostraram maior evitação comportamental. O grau de exposição ao trauma da mãe, mas não da criança, e TEPT materno se correlacionaram com o comportamento de evitação das crianças.

Já o estudo de Sheree Toth, coordenado pelo conhecido Dante Cicchetti, examinou as alterações de pensamento em crianças escolares vítimas de abuso. Foram examinadas 91 crianças vítimas de maus-tratos e 43 controles. Os participantes foram instruídos a escutar duas histórias e solicitados a recontarem essas histórias. Posteriormente, elas deveriam criar as suas próprias histórias. As crianças abusadas tinham mais pensamentos ilógicos do que as crianças que não sofreram maus-tratos. A ocorrência de múltiplos subtipos de maus-tratos e a cronicidade dos maus -ratos também foram associados com o pensamento ilógico. A frequência do fenômeno de dissociação não diferiu entre os grupos, embora ela tenha sido relacionada ao pensamento ilógico.

Uma importante lição desses estudos é a de que uma boa saúde mental materna pode ser uma importante fonte de resiliência para as crianças vítimas de trauma. As crianças mais resilientes, procuram ativamente o suporte materno, enquanto um comportamento evitativo sinaliza maior risco de psicopatologia. Infelizmente, os próprios pais frequentemente são os abusadores das crianças. Nesses casos, sem o apoio seguro de suas mães, as repercussões do trauma podem ser bastante graves e duradouras, incluindo o desenvolvimento de TEPT e de distúrbios do pensamento (como o pensamento ilógico).


Referências:
1) Feldman R, Vengrober A. Posttraumatic stress disorder in infants and young children exposed to war-related trauma. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2011 Jul;50(7):645-58.
2) Toth SL, Pickreign Stronach E, Rogosch FA, Caplan R, Cicchetti D. Illogical thinking and thought disorder in maltreated children. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2011 Jul;50(7):659-68.

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