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Fatores de risco para TDAH: um estudo longitudinal

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011 0 comentários
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é uma condição bastante prevalente e uma das maiores demandas de atendimento clínico na psiquiatria infantil. Seu sintomas surgem na primeira infância e persistem ao longo da vida. Etiologicamente, o TDAH é tido como um transtorno heterogêneo, mas com uma base desenvolvimental  bastante evidente (ou seja, também é um transtorno do desenvolvimento!). A grande quantidade de pesquisas sobre as causas do TDAH claramente implica fatores de risco genéticos e ambientais. Apesar da alta herdabilidade do TDAH (em torno de 75%), os recentes estudos moleculares sugerem apenas pequeno efeito dos múltiplos genes candidatos, contribuindo cada um para uma proporção relativamente pequena de variância na expressão do TDAH.

Por outro lado, fatores de risco ambientais podem desempenhar um papel importante no surgimento do TDAH, particularmente durante os períodos mais sensíveis e precoces do desenvolvimento da vida fetal . Consequentemente, uma melhor identificação dos primeiros fatores de risco ambientais pode proporcionar uma melhor compreensão dos mecanismos etiológicos e apontar possíveis intervenções. Isto é tanto mais relevante porque, até à data, estudos genéticos não forneceram alvos imediatos para intervenção e estratégias terapêuticas disponíveis têm demonstrado eficácia a longo prazo limitada.

Recentemente, pesquisadores das Universidade de Bordeaux, Montreal e Laval investigaram fatores de risco pré-natal, perinatal e pós-natal para TDAH. Mais de 2000 participantes foram avaliados na idade de 5 meses e acompanhados dos 17 meses aos 8 anos.

Os autores observaram que a frequência de sintomas de hiperatividade-impulsividade tende a diminuir ligeiramente com a idade, enquanto que a frequência de sintomas de desatenção aumentou substancialmente até a idade de 6 anos (ver figura abaixo). No entanto, as trajetórias de hiperatividade-impulsividade e sintomas de desatenção são relativamente estáveis (ou seja, os meninos com sintomas elevados quando bebês mantêm os níveis elevados de sintomas quando mais velhos) e foram significativamente associadas uma com a outra.

Fatores de risco para trajetória elevada dos dois tipos de sintomas foram:
  • Parto prematuro (odds ratio ajustada [AOR]: 1,93; intervalo de confiança de 95%: 1,07-3,50),
  • Baixo peso ao nascer (2,11; 1,12-3,98),
  • Tabagismo na gravidez (1,41; 1,03 -1,93),
  • Desajuste familiar (1,85; 1,26-2,70),
  • Idade materna jovem (1,78; 1,17-2,69),
  • História paterna de comportamento anti-social (1,78; 1,28-2,47) e
  • Depressão materna (1,35; 1,18-1,54).

Os resultados apóiam a hipótese da etiologia multifatorial e heterogeneidade ambiental de processos causais implicados no TDAH.  um amplo conjunto de fatores de risco precoces e independentes na predição de trajetórias iniciais dos sintomas de TDAH. Isto é especialmente significativo para a compreensão dos mecanismos subjacentes ao transtorno e para questões de saúde pública. De fato, trajetórias de desenvolvimento ligadas a fatores de risco reconhecidos, alguns dos quais são modificáveis, podem ser identificados logo no início.

O período inicial do desenvolvimento é um período específico de vulnerabilidade, mas também de plasticidade, quando as influências sobre os processos de programação e sobre o desenvolvimento do cérebro estão sujeitos a modificações, ressaltando a importância de medidas preventivas para o TDAH e para outros problemas do desenvolvimento que possuem fatores de risco similares. Além da promoção de hábitos maternos saudáveis durante a gravidez, fatores de risco podem ser avaliados no início para ajudar na identificação de crianças de alto risco e quais famílias que devem receber apoio.


 Referência:
Galéra C, Côté SM, Bouvard MP, Pingault JB, Melchior M, Michel G, Boivin M, Tremblay RE. Early risk factors for hyperactivity-impulsivity and inattention trajectories from age 17 months to 8 years. Arch Gen Psychiatry. 2011 Dec;68(12):1267-75.

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