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Abuso na infância reduz espessura do córtex cerebral

sábado, 21 de janeiro de 2012 0 comentários
Há muito tempo já se sabe das repercussões deletérias do abuso infantil sobre o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Os efeitos do estresse se estendem ao comportamento, cognição, personalidade e podem até mesmo deixar os indivíduos mais susceptíveis a diversas doenças (metabólicas, cardiovasculares, etc). Também já há evidências de redução do volume cortical de regiões límbicas e córtico-estriatais, mas apenas em adultos. Na edição de dezembro de 2011 do Archives of Pediatric and Adolescent Medicine, Edminston e colaboradores investigaram a relação entre o autorrelato de maus tratos na infância e a morfologia da substância cinzenta em adolescentes sem história de transtorno psiquiátrico.

Foram examinados 42 adolescentes de 12 a 17 anos que relataram ter sofrido maus tratos quando crianças. As imagens de ressonância magnética estrutural mostraram uma correlação negativa significativa entre o relato de abuso e o volume de matéria cinzenta em diversas áreas, incluindo o córtex pré-frontal, estriado, a amígdala, córtex sensorial associativo e cerebelo. Ou seja, quanto maior a frequência de maus tratos, menor o volume dessas estruturas. "Estima-se que 3,7 milhões de crianças são avaliadas por maus tratos na infância (CM) a cada ano nos Estados Unidos", disseram os autores ao site Medscape. "Este é provavelmente um valor subestimado, porque muitos casos não chegam à atenção profissional", acrescentam.


Neste estudo, os investigadores exploraram essa relação em adolescentes que não tinham diagnósticos psiquiátricos. Eles descobriram que os diferentes tipos de abuso foram associados a reduções de volume de substância cinzenta em regiões diferentes do cérebro. Abuso físico, negligência física e negligência emocional foram associados a reduções no córtex pré-frontal rostral. Abuso físico também se associou com diminuições no córtex dorsolateral e orbitofrontal, ínsula e striatum ventral. Negligência física se associou à diminuição no cerebelo. Negligência emocional se associou à diminuição no córtex pré-frontal dorsolateral, orbitofrontal e subgenual, estriado, amígdala, hipocampo e cerebelo.

O menor volume destas regiões cerebrais responsáveis pela regulação emocional foi mais marcante nas meninas, enquanto os meninos tiveram reduções no caudado. A redução do caudado pode ser um fator na falta de controle dos impulsos visto em meninos vítimas de abuso. As maiores limitações deste trabalho são o pequeno tamanho das amostras, especialmente para os adolescentes que relataram abuso sexual, e o fato do abuso sexual ter sido avaliado por autorrelato.

"Prevenção é fundamental, bem como é preciso mais pesquisas para entender como abuso e negligência podem mudar o cérebro para que possamos desenvolver melhores formas de ajudar as crianças que foram expostas", disse a autora do estudo. As principais contribuições desse trabalho são a observação de que a redução de massa cinzenta também é vista em adolescentes, de que as alterações cerebrais podem variar dependendo dos subtipos de abuso e de que essas alterações estruturais no cérebro ocorrem mesmo naqueles indivíduos que não possuem aparentemente nenhum transtorno psiquiátrico. Em resumo, os adolescentes que foram maltratados quando crianças mostram reduções na substância cinzenta cerebral, mesmo se eles não demonstram sintomas psiquiátricos.


Referência:
Edmiston EE, Wang F, Mazure CM, Guiney J, Sinha R, Mayes LC, Blumberg HP. Corticostriatal-limbic gray matter morphology in adolescents with self-reported exposure to childhood maltreatment. Arch Pediatr Adolesc Med. 2011 Dec;165(12):1069-77. [Link]

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